Archive for outubro, 2009

33ª Mostra SP – Dia 8

A Família Wolberg (Axelle Ropert – 2009 – França)

Talvez a grande surpresa da Mostra. Não sou fã dos personagens secundários (mas a cena do cunhado com o pequeno Wolberg deve ser a melhor do filme), mas tudo que envolve o quarteto principal, todos atores formidáveis, está entre os melhores momentos desta Mostra. “Eu te amo, mas você me faz sofrer” é mesmo a frase que define o filme – que entende que muitas vezes numa família disfuncional não há vilões ou mesmo responsáveis diretos pelos problemas familiares (e, por isso mesmo, sem respostas fáceis). Estréia muito promissora da cineasta Axelle Ropert.

Os Sorrisos do Destino (Fernando Lopes – 2009 – Portugal)

AVISO: filme prejudicado pela cópia PÉSSIMA digital. Uma inesperada amizade entre marido e amante da esposa é pretexto para uma divertida comédia sobre casamento, família e decepções naturais da vida. Piadas muito mais engraçadas e inteligentes do que a frase anterior sugere.

Ela, uma Chinesa (Xiaolu Guo – 2009 – Reino Unido, China, Alemanha)

AVISO: filme prejudicado pela CATASTRÓFICA cópia digital. Eu teria abandonado o filme depois de 20 minutos, mas a curiosidade para descobrir o quanto ele conseguiria ser constrangedor me venceu.

31/10/2009 at 11:29 am Deixe um comentário

33ª Mostra SP – Ranking (primeiros 7 dias)

Como estou na metade da Mostra, decidi organizar este ranking – provisório – de todos os filmes que vi até agora, para melhor dar minhas dicas a você do que ver (ou não). Os filmes foram classificados usando o mesmo critério das fichas de avaliação da Mostra. Dentro de cada categoria, os filmes foram classificados em ordem alfabética.

Excelente

Independência (Raya Martin – 2009 – Filipinas, França, Alemanha, Holanda)
Singularidades de uma Rapariga Loura (Manoel de Oliveira – 2009 – Portugal, França, Espanha)

Muito Bom

35 Doses de Rum (Claire Denis – 2008 – França)
Ervas Daninhas (Alain Resnais – 2009 – França)
Louise Michel, A Rebelde (Sólveig Anspach – 2009 – França)
Morrer Como um Homem (João Pedro Rodrigues – 2009 – Portugal, França)
Mother (Bong Joon-Ho – 2009 – Coreia do Sul)
O que Resta do Tempo (Elia Suleiman – 2009 – França, Palestina)
Ricky (François Ozon – 2009 – França)
Vencer (Marco Bellocchio – 2009 – Itália)

Bom

À Procura de Elly (Asghar Farhadi – 2009 – Irã)
A Fita Branca (Michael Haneke – 2009 – Áustria, Alemanha, França, Itália)
A Ressurreição de Adam (Paul Schrader – 2008 – EUA, Alemanha, Israel)
Katalin Varga (Peter Strickland – 2009 – Hungria, Romênia)
Polícia, Adjetivo (Corneliu Porumboiu – 2009 – Romênia)
Vício Frenético (Werner Herzog – 2009 – EUA)
Voluntária Sexual (Kyong-duk Cho – 2009 – Coreia do Sul)

Regular

Aconteceu em Woodstock (Ang Lee – 2009 – EUA)
Alga Doce (Andrzej Wajda – 2008 – Polônia)
Entre Dois Mundos (Vimukthi Jayasundara – 2009 – Sri Lanka)
Irene (Alain Cavalier – 2009 – França)
O Inferno de Clouzot (Serge Bromberg, Ruxandra Medrea – 2009 – França)

Não Gostei

Águas Verdes (Mariano De Rosa – 2009 – Argentina)
Cinerama (Inês Oliveira – 2009 – Portugal)
Czar (Pavel Lounguine – 2009 – Rússia)
Formosa Traída (Adam Kane – 2009 – EUA, Tailândia)
O Amor segundo B. Schianberg (Beto Brant – 2009 – Brasil)

30/10/2009 at 11:04 am Deixe um comentário

33ª Mostra SP – Dia 7

Formosa Traída (Adam Kane – 2009 – EUA, Tailândia)

Um filme sincero na sua intenção: conscientizar o público dos problemas políticos de Formosa (Taiwan). E um filme completamente nulo como cinema.

Polícia, Adjetivo (Corneliu Porumboiu – 2009 – Romênia)

O lento assassinato da vontade e da moral individual pelas mãos do Estado – aterrorizante. Alguma coisa no filme me incomoda (e talvez eu só descubra numa revisão), mas Corneliu filma bem demais.

Morrer Como um Homem (João Pedro Rodrigues – 2009 – Portugal, França)

Um filme que vai crescendo e ganhando vida aos poucos (irônico, considerando o título). Algumas coisas nele me parecem supérfluas (o filho do protagonista, por exemplo), mas o resultado final é mesmo comovente e pelo menos uns 3 ou 4 planos são inesquecíveis.

30/10/2009 at 10:54 am Deixe um comentário

33ª Mostra SP – Dia 6

Irene (Alain Cavalier – 2009 – França)

Eu não embarquei plenamente nestas recordações de Cavalier sobre sua falecida esposa. Mas o filme tem seus momentos.

Singularidades de uma Rapariga Loura (Manoel de Oliveira – 2009 – Portugal, França, Espanha)

Filme de extraordinária concisão. Um enquadramento mais genial que o outro. Talvez o mais belo plano final desta Mostra.

O que Resta do Tempo (Elia Suleiman – 2009 – França, Palestina)

É menos anárquico que Intervenção Divina, mas me surpreendi positivamente com o tom mais doméstico e afetivo do filme. Várias cenas geniais.

Vencer (Marco Bellocchio – 2009 – Itália)

Fascismo, Catolicismo, psiquiatria – líderes, mártires e ideologias – Bellocchio não poupa ninguém neste petardo. Azar de quem não gostou.

29/10/2009 at 10:26 am Deixe um comentário

33ª Mostra SP – Dia 5

Entre Dois Mundos (Vimukthi Jayasundara – 2009 – Sri Lanka)

Num mundo em que as pessoas comuns se rebelaram contra o poder da televisão (os planos com centenas de TVs quebradas nas ruas são dignos do melhor cinema apocalíptico), surge um enviado dos céus… ou algo assim. Há uma cena no começo em que pescadores discutem lendas locais que parece fornecer alguma chave de compreensão ao pobre espectador. Será a única dada pelo filme, uma sucessão de planos-sequencia delirantes, momentos insanos e personagens estranhos (e que mesmo assassinados reaparecem vivos na cena seguinte). Infelizmente, ao contrário de um certo tailandês maluco genial (Apichatpong Weerasethakul), Vimukthi Jayasundara é um exibicionista que tenta fazer cada plano de seu filme o mais genial possível (alguns são mesmo) resultando num filme que tem seu fascínio, mas é frequentemente pedante e aborrecido.

Independência (Raya Martin – 2009 – Filipinas, França, Alemanha, Holanda)

Ambientado nos anos 30, época em que as Filipinas estavam dominadas pelos EUA, Independência foi filmado como um filme dos anos 30. Ou seja, fotografia preto e branca, cenários falsos com fundo pintado, atuações ingênuas, etc. Trata-se, portanto, de recriar cinematograficamente um passado autênticamente filipino já que o passado histórico é dominado por outras nações. No filme, mãe e filho fogem dos invasores americanos e se refugiam numa floresta. Pouco depois, abrigam uma moça violentada por soldados dos EUA. Mesmo reconstruindo suas vidas longe da civilização, o trio não é realmente independente: ainda sonham com o passado, temem o invasor e o filho é imaturo. A mãe morre doente (num uso fantástico de elipse) enquanto os dois jovens se casam e criam um filho (provavelmente fruto do estupro). O menino é o verdadeiro herói do filme, desde cedo buscando a independência dos pais. E quando a natureza e os americanos finalmente cobram da família o preço por morarem na floresta, o garoto decide seu destino sem medo. O céu se torna vermelho, da mesma cor que sua camisa (é a única cena com alguma cor) demonstrando a superioridade moral e espiritual do pequeno valente sobre os opressores de seu país. Sério candidato a meu filme preferido nesta Mostra.

28/10/2009 at 8:52 am Deixe um comentário

33ª Mostra SP – Dia 4

Águas Verdes (Mariano De Rosa – 2009 – Argentina)

Pai de família de férias na praia fica com ciúmes da esposa e da filha mais velha. Seguem piadinhas constrangedoras. Filme é patético, mas final surpresa (quando você descobre que era para levar a crise do protagonista muito a sério) torna tudo ainda pior.

Louise Michel, A Rebelde (Sólveig Anspach – 2009 – França)

AVISO: filme prejudicado pela PÉSSIMA cópia digital. O filme acompanha os anos de exílio na Oceania, de Louise Michel, uma anarquista francesa integrante da Comuna de Paris. O filme contrapõe os discursos de Louise (maniqueístas, autoritários e egocêntricos) com suas ações, que a redimem: sua dedicação aos companheiros, sua vontade de colocar em prática seus ideais, sua amizade sincera com os nativos (o que acaba tendo uma grande importância no decorrer do filme). A cineasta islandesa Sólveig Anspach mostra as dificuldades de mudar os adultos através do anarquismo e conclui seu filme lindamente ao sugerir que a educação das crianças é a chave de tudo.

Aconteceu em Woodstock (Ang Lee – 2009 – EUA)

Ok, o filme é divertido mesmo, as piadas tem um timing ótimo. E Ang Lee filma Woodstock como sinônimo de transformações pessoais e amadurecimento (e não irresponsabilidade, como seria o clichê). Mas o fato protagonista não revelar sua sexualidade para os pais deixa o filme um tanto sem sentido. Ou estou enganado?

Katalin Varga (Peter Strickland – 2009 – Hungria, Romênia)

À princípio, um filme repleto de vários senões. O maior deles, talvez, o fato de que sempre que ele tenta “contar sua história”, suas fragilidades ficam óbvias. Mas aquelas árvores, o rio, a escuridão da noite, a névoa, as ovelhas atravessando o campo ensolarado… entendo quem acha o filme perfumaria, mas eu comprei essa atmosfera soturna e inquietante – sugerindo que Katalin Varga é um episódio perdido e assustador do Antigo Testamento da Bíblia. Ademais, a atriz Hilda Péter é excelente e, a cena da canoa, seu maior momento no filme (e do filme). O estreante Peter Strickland é um nome a ser acompanhado no futuro.

27/10/2009 at 9:06 am 2 comentários

33ª Mostra SP – Dia 3

À Procura de Elly (Asghar Farhadi – 2009 – Irã)

O filme cria um senso de camaradagem bem palpável no grupo de amigos que passa um fim de semana na praia. Num estilo clássico de direção, o diretor vai aos poucos criando uma tensão quase subliminar até acontecer o incidente quue dá título ao filme. Depois disso, o filme extrai boa parte da sua tensão ao trazer à tona algumas das complicações existentes nas relações entre homem e mulher no Irã (mas fugindo das obviedades). Muito bom.

Cinerama (Inês Oliveira – 2009 – Portugal)

Filme-OVNI. Para mim é nítido que há um confronto entre a experiência mística-sensorial da parte final com a tentativa de sátira corporativa do começo. Dito isso, o filme me despertou um grau de interesse quase zero por ele.

Alga Doce (Andrzej Wajda – 2008 – Polônia)

Queria ter gostado mais deste aqui. No cruzamento entre a parte ficcional inacabada, a parte metalinguistica (com o próprio Andrzej Wajda em cena) e os monologos da atriz Krystyna Janda, o veterano Wajda fez um filme mais digno que memorável – certamente o seu melhor em anos. Mas nenhum filme com aquele monologo final da Janda relembrando a morte do marido (o diretor de fotografia Edward Klosinski, a quem o filme é dedicado) é descartável.

Voluntária Sexual (Kyong-duk Cho – 2009 – Coreia do Sul)

Usando uma estrutura de falso documentário (à princípio para fins cômicos), o diretor Kyong-duk Cho filma um assunto complicadíssimo – sexo com pessoas com paralisia cerebral – driblando todas as armadilhas que se poderia esperar, mas sem evitar as questões mais difíceis que o assunto rende. Uma pena então que o excesso de ambição de Kyong-duk Cho aos poucos tire boa parte da força de seu belo filme.

26/10/2009 at 9:32 am Deixe um comentário

33ª Mostra SP – Dia 2

Dia francês na Mostra!

35 Doses de Rum (Claire Denis – 2008 – França)

Poucas linhas são uma injustiça para este filme. Não me apaixonei como alguns, mas a maneira como Denis vai aos poucos revelando seus personagens, a relação entre eles, etc, é primorosa. Há uma sequencia de passeio noturno especialmente memorável. Filmão!

O Inferno de Clouzot (Serge Bromberg, Ruxandra Medrea – 2009 – França)

O paralelo entre a obsessão por detalhes do diretor Clouzot com o protagonista de seu (inacabado) filme Inferno já era esperado. Mas há algumas imagens impressionantes das cenas perdidas do filme, incluindo aquelas que sugerem que O Inferno ia ser um abacaxi vanguardista.

Mother (Bong Joon-Ho – 2009 – Coreia do Sul)

O argumento melodramático (mãe tenta provar que o simpático filho deficiente metal é inocente de um crime bárbaro) serve de pretexto pra uma tragicomédia bizarra sobre uma sociedade doente e insensível aos seus membros mais fracos. Aos poucos o filme deixa de ser engraçado e se torna só trágico. A sequencia final, na qual os personagens finalmente se rendem ao mundo doente que os cerca é memorável e perturbadora.

O Amor segundo B. Schianberg (Beto Brant – 2009 – Brasil)

Em 5 minutos percebi que nada daquilo ia me interessar. Pouco depois o sono foi inevitável e dormi o filme todo. Até onde pude ver, um equívoco monumental na carreira do Beto Brant.

Ricky (François Ozon – 2009 – França)

Não vou entregar a principal surpresa de um filme tão planejado para surpreender o espectador. Ele começa como um retrato de uma instável família de baixa renda e vai adqurindo contornos cada vez mais inesperados e sombrios. Os mais diferentes elementos do filme funcionam de maneira quase sempre muito eficaz e emocionante.

25/10/2009 at 9:58 am Deixe um comentário

33ª Mostra SP – Dia 1

Czar (Pavel Lounguine – 2009 – Rússia)

Aborrecido. Uma espécie de parte 3 de Ivã, o Terrível do Eiseinstein, inclusive por causa dos enquadramentos e atuações. Mas a busca por respeitabilidade bota tudo a perder. Sessão prejudicada pela PÉSSIMA projeção digital.

A Ressurreição de Adam (Paul Schrader – 2008 – EUA, Alemanha, Israel)

Junto com A Espiã e Bastardos Inglórios, outro filme sobre Holocausto disposto a destruir a aura de respeitabilidade de filmes sobre o tema. A Ressurreição de Adam cresce sempre que investe no seu artificialismo. É um conto de redenção cuja redenção não vem por caminhos já trilhados no cinema. Um filme nem sempre bem sucedido, mas sempre arriscado, sincero e, or fim, tocante.

Ervas Daninhas (Alain Resnais – 2009 – França)

O acaso aproxima um homem e uma mulher num filme movido pela paixão pelo cinema, e no qual o encantador frequentemente anda de mãos dadas com o sinistro. Ervas Daninhas nem sempre é coeso de idéias, mas de mise-en-scène sempre impecável. Ainda não o entendi, mas adorei cada minuto. O melhor do dia.

A Fita Branca (Michael Haneke – 2009 – Áustria, Alemanha, França, Itália)

Superestimado. Vila alemã do início do século 20 tem seu modo de vida rígido (mas, até certo ponto, atraente) afetado por ameaça que não se sabe da onde vem.Com os personagens mais calorosos até agora de sua filmografia, Haneke parece querer dizer que horror e inocência independem de regras para existir. Filme de vários momentos muito bonitos, mas que no terço final nos lembra que foi dirigido por Haneke e isto (pelo menos para os não-fãs) nunca será uma coisa boa.Contextualização histórica feita à marretadas.

Vício Frenético (Werner Herzog – 2009 – EUA)

Num mundo onde não existe Deus nem ordem, apenas o caos (claro, é um filme do Herzog…) a justiça de um policial torto moralmente, psicologicamente e literalmente – devido a uma dor nas costas – é tão ou mais válida quanto a justiça tradicional. Nicolas Cage está em grande momento, ensadecido, e o filme abraça a loucura dele completamente.

24/10/2009 at 10:41 am 2 comentários

CARTA ABERTA AOS RESPONSÁVEIS PELA PROJEÇÃO DIGITAL NO BRASIL

Há tempos que a qualidade das projeções digitais no circuito comercial costuma ser péssima. Como estou cansado disso, assinei a petição abaixo exigindo uma melhora na qualidade das projeções. Por favor, leia. E se você vai frequentar a Mostra SP deste ano, tenha este texto em mente, já que as péssimas cópias de filmes também são comuns no festival.

A petição na íntegra – para assinar, clique aqui.

CARTA ABERTA AOS RESPONSÁVEIS PELA PROJEÇÃO DIGITAL NO BRASIL

A projeção digital chegou ao Brasil com a missão de democratizar o acesso aos filmes e libertar os distribuidores da dependência de cópias em 35 milímetros, cuja confecção e transporte são notoriamente caros. A instalação de projetores digitais permitiria ao público assistir a títulos que dificilmente seriam lançados nas condições tradicionais e ainda ofereceria condições para que espectadores situados longe do eixo Rio-São Paulo (onde se concentram quase 50% das salas de cinema do país) tivessem acesso aos mesmos títulos simultaneamente.

O que estamos vendo, no entanto, é uma total falta de respeito ao espectador no que se refere à exibição do filme propriamente dita. As razões são basicamente duas: projeções incapazes de reproduzir fielmente os padrões de cor e textura da obra e/ou projeções incapazes de exibir os filmes no formato em que foram originalmente concebidos. Sem falar no som, que muitas vezes ganha uma reprodução abafada, limitada ao canal central, muito diferente de seu desenho original.

A adoção da projeção digital pelos dois maiores festivais internacionais do Brasil (o Festival do Rio e a Mostra de São Paulo) e por outros festivais do país, infelizmente, não respeitou o que seriam critérios mínimos de qualidade de projeção de filmes em cinema – algo que é observado com atenção em qualquer festival internacional que se preze. Trata-se de uma situação particularmente alarmante tendo em vista o papel de formadores de plateia que esses eventos desempenham.

Sucessivamente, temos visto um autêntico massacre ao trabalho de cineastas, fotógrafos, diretores de arte, figurinistas, técnicos de som e até mesmo de atores. Apenas para citar um exemplo: Les herbes folles, o novo filme de Alain Resnais, originalmente concebido no formato 2:35:1, foi exibido no Festival do Rio, com projeção digital, no formato 1:78. Isso representou o corte da imagem em suas extremidades, resultando em enquadramentos arruinados, movimentos de câmera deformados e rostos dos atores cortados. Um pouco como se A santa ceia, de Leonardo Da Vinci, tivesse suas pontas decepadas, deixando alguns discípulos de Jesus fora de campo – e da história. Para completar o desrespeito, não há qualquer aviso em relação às condições de exibição e o preço cobrado pelo ingresso não sofre qualquer alteração.

Não nos cabe, aqui, pregar a “volta ao 35mm” nem defender determinada resolução mínima para a projeção digital. Sabemos que, se respeitados determinados critérios técnicos – ou seja, se a empresa responsável pela projeção digital receber do distribuidor o master no formato adequado, se o processo de encodamento for feito corretamente, e se os ajustes necessários para a exibição de cada filme forem realizados cuidadosamente –, a projeção digital pode ser uma experiência perfeitamente satisfatória para o espectador.

Não é isso, porém, que tem ocorrido. Exibidores, distribuidores e os fornecedores do serviço da projeção digital são responsáveis pela má qualidade da projeção e coniventes com esse lamentável descaso geral, que tem deixado críticos e amantes de cinema indignados. É um desrespeito ao cinema e aos seus criadores, mas, sobretudo, ao espectador e consumidor final, que saiu de casa e pagou ingresso para ver um filme.

A situação chegou a um ponto intolerável. Pedimos a todos os profissionais envolvidos com a projeção digital que tomem providências para que tais deformações não se repitam.

Fórum da Crítica

23/10/2009 at 9:40 am Deixe um comentário


Agenda

outubro 2009
S T Q Q S S D
 1234
567891011
12131415161718
19202122232425
262728293031  

Posts by Month

Posts by Category